quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

CLAREAR disponível na Livraria do Alto











 O livro "Clarear - a pedagogia Waldorf em debate" já se encontra disponível na Livraria do Alto.
Av. Vereador José Diniz, 1203 - ao lado da padaria Santa Marcelina (estacionamento no local)

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Quando o professor faz a diferença em sala de aula

O professor pode fazer toda a diferença em sala de aula, como mostra esta matéria.http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,professor-multidisciplinar-leva-arte-ao-bandeirantes,682669,0.htm
Assisti recentemente ao filme Escritores da Liberdade. Baseado em fatos reais o filme conta a história de uma professora que lutando contra todas as adversidades e a burocracia do sistema educacional, faz toda a diferença em sala de aula com seus alunos. O que diferencia estes professores? A paixão pela docência? O amor ao próximo?

Professor multidisciplinar leva arte ao Bandeirantes

Multidisciplinaridade é uma das palavras de ordem do ensino hoje. Mas são raros os professores que encarnam esse conceito tão bem quanto Regis Lima, de 45 anos, há mais de 20 no Colégio Bandeirantes. Ele ensina biologia e filosofia para o ensino médio e história da arte num curso optativo da escola – também dá aulas de filosofia da ciência na Universidade Metodista. “Às vezes os alunos se admiram de eu dar matérias tão distintas. Mas isso só pode tornar a aula mais interessante.”
Arquivo Pessoal
Arquivo Pessoal
'Às vezes, os alunos se admiram de eu dar matérias tão distintas', diz Lima
Filho de professores, formado em Biologia, Regis tem mestrado em Psicologia e doutorado em Filosofia da Arte. Neste último caso, o Bandeirantes bancou uma viagem para a Itália, o que lhe permitiu pesquisar em 11 bibliotecas do país para preparar o doutorado.
Regis é deficiente físico – nasceu sem os braços. Por isso cursou a 1.ª série do ensino fundamental na Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD). Já no ano seguinte, foi transferido para um colégio estadual, porque a equipe da AACD julgou que ele se adaptaria bem à rede pública. “Deficiente ou não, a pessoa precisa ver se leva jeito para o que quer fazer. Tem de ir atrás e vencer os obstáculos.”
Regis tirou de letra a escola até o ensino médio, quando se matriculou no próprio Bandeirantes. “Era tudo era muito fácil intelectualmente”, diz. “Mas aqui tive a dificuldade que todo aluno enfrenta, porque o colégio é puxado.”
Nas aulas, em especial as de história da arte, Regis usa um projetor, permite consultas à internet e estimula o debate entre os alunos. “Preparo até o segundo terço da aula, aí continuo com as questões que os alunos levantam. Eles vão trazendo outros exemplos e as discussões fluem”, diz.
Muitas vezes é a arte que vai à escola. Regis leva grupos de músicos ao colégio e os alunos aprendem sobre o funcionamento dos instrumentos, ouvem canções e leem poemas. “Não precisamos ficar só nas artes clássicas. Fomos à Bienal no ano passado e à exposição de Andy Warhol na Pinacoteca.”
Mas história da arte não é um tema enfadonho para jovens que vivem grudados nas redes sociais? Regis garante que não. Sua fórmula de ensino faz sucesso. Inspirada pelas aulas, uma ex-aluna do Bandeirantes que hoje cursa História na PUC-SP passou sete meses em Paris trabalhando como guia no Museu do Louvre. “Tem aluno que faz o curso extracurricular até seis vezes”, diz o professor. “Eles ficam malucos.”


domingo, 20 de fevereiro de 2011

Depoimento de uma mãe e professora Waldorf

Esta mensagem eu recebi de uma mãe e professora Waldorf, Margit Perner.
Seu depoimento é forte e incisivo.

Querida Ana Lúcia,

não te conheço, mas sei que o teu assunto nos une... não acabei de ler, mas me emocionei com que li e sei do que vc está falando.
Eu mesma sou professora, me formei na pedagogia Waldorf como professora de Jardim de Infância, acompanho meus filhos, 15 e 16, anos no seu percurso escolar e infinitas perguntas e críticas, sem deixar de fora tb os elogios, me perseguem. Fiz a formação de Recursos Especiasi (Extra Lesson) e atendo faz 3 anos crianças com dificuldades de aprendizado e comportamentais. Elas me abrem inúmeras portas, e sou grata, muito grata pelo que me revelam.

A Pedagogia Waldorf, a meu ver é uma grande inspiração e só é capaz de praticá-la quem tem olhos para o mundo, para quem percebe as necessidades das crianças (hoje elas vem com muitas necessidades diferentes e o "sistema" em breve não vai mais aguentar... ), para quem é flexível e criativo e para quem AMA MUITO !!!!!!

Liberdade é um assunto vasto sobre qual gosto de falar.
Segundo Rudolf Steiner, devemos sempre estar acompanhando a época. "Como?" foi a minha pergunta no seminário, quando eu só achava que tudo no mundo estava errado! "Como educar na pedagogia Waldorf, acompanhando a época da informática, do marketing, do egoismo, do poder, do materialoismo, e um monte de coisa mais...?" Hoje as respostas estão chegando, mas devo dizer que a minha busca começou quando me formei faz 12 anos nesta pedagogia. Participei de muitos seminários, congressos, visitei escolas (tb ñ Waldorf), conheci e conversei com muuuuuitas pessoas, E continuo nesta busca.O mundo precisa de gente que inova!

Eu gostaria muito de conhecer vc... espero que tenhamos a oportunidade um dia. No momento não estou no país, mas podemos manter contato por e-mail.

O seu livro quero ler tb.

Um grande abraço

Margit
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Creio que Margit toca em um ponto fundamental da proposta de reflexão de Clarear quando pergunta como educar na Pedagogia Waldorf acompanhando a época atual?
Essa pergunta o pedagogo Heniz Zimmermann também faz enfaticamente em sua obra "Forças que impulsionam a Educação": Como chegarmos às fontes a partir das quais podemos re-fundamentar a Pedagogia Waldorf a cada dia, na sala de aula, no colegiado de professores, nas conversas com os pais e as autoridades, a partir da atualidade?

Obrigada Margit por sua contribuição

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Carta de Tião Guerra

Esta é uma carta de Tião Guerra, um morador de Nova Friburgo e um dos fundadores da escola pública Waldorf de lá. Seu depoimento é comovente, provocante, mobilizador. Que possamos ser contagiados pelo amor que ele transborda em sua carta e inundados por essa avalanche de desejo por profundas transformações em nossa forma de viver em sociedade.


A lua cresce no céu de Friburgo
09 de fevereiro de 2011, lentamente a lua volta a crescer no céu de cada um de nós. Assim, mais ou menos de forma direcionada, mantemos nossos movimentos cotidianos externos. Cada um de nós, repletos de memórias densas, importantes e fecundas, lida como pode, no fundo da alma, na noite profunda de nosso interior com a riqueza doída e luminosa de estarmos vivendo ‘estes dias’ de nossas vidas, nestas serras queridas.
Nos últimos dias, algumas pessoas e a mídia em geral têm usado, em nome do desejo de criar uma onda positiva, otimista, uma frase que me dói: “Estamos finalmente voltando ao normal”. Como assim, voltando ao normal? Se o normal é como era antes, não posso aceitar que voltemos a ele. O normal de antes, era feito de muitos interesses separados; seja por grupos sociais e econômicos; seja por grupos de famílias; seja por religiões ou entre pessoas ‘do bem e do mal’. O normal de antes era civilmente muito solitário, era feito de conselhos municipais esvaziados, envelhecidos antes de florescerem; era feito de instituições sociais importantes e maduras, atuando ingenuamente em nossa sociedade. O normal de antes tinha muito pouco tempo para solidariedade, para servir ao outro acima de tudo. E que fique claro, quando falo servir ao outro, não estou dizendo servir ao outro que precisa, que é pobre. Estou falando em construir uma sociedade de tal forma, que não se produza o acúmulo de bens por uns poucos. O normal de antes não tinha tempo para longas, gostosas, profundas e preguiçosas conversas ao redor da mesa de refeições ou na calçada de casa.
Sem dúvida, o normal de antes também tinha práticas de grande valor humano e potencial transformador. MAS...pouco, muito pouco, diante do tamanho da tarefa.
Nestes dias vivemos fora do normal. Ah, com certeza vivemos.
Nestes dias que passamos sem eletricidade, pude reaprender sobre o silêncio de nenhum motor funcionando, de nenhuma rede virtual ativa, de nenhum aparelho áudio visual emitindo estímulos; pude sentar com minha família, amigos e desconhecidos, na penumbra da luz de raras velas, e suspirar sob o sentimento humilde do tamanho dos meus braços, de minha força real de transformação e de ser ajuda. A eletricidade amplia nossa força de atuação e também nos ilude sobre nosso tamanho.
Nestes muitos dias que passamos sem água encanada e potável, pude reaprender sobre tudo que se lava com dois litros d´água(medida das muitas garrafas pet que me chegaram). Pude conviver com os meus dejetos(urina e fezes) e os de minha grande família, guardados dentro de nossos belos vasos sanitários sem água e sentir a fragilidade e insanidade de nossa civilização que sequer sabe lidar com as fezes a não ser, dando descarga e se esquecendo delas. Pela falta d´água pude aprender os nomes de meus vizinhos, que comigo partilharam a água que tinham.
Nestes dias, no meio da lama fedida, buscando corpos, lavando corpos, enterrando corpos de pessoas amadas, pude aprender sobre o amor. Amor como cuidado; amor como honra ao que vive no outro, seja isto fato presente ou memória. A crueza inesperada das situações que vivemos não poderá ser expressa por palavras jamais, está muito além delas. O sentimento do que vivemos está buscando seus caminhos de expressão. Fiquemos atentos! Agora é tempo de contar histórias sobre o amor que descobrimos; amor cru, desnudo, amor enlameado. Contar muitas histórias entre nós e para outros que aqui não estiveram. Apesar da eletricidade ter voltado; apesar da água potável e encanada ter voltado; apesar de todas as redes virtuais terem voltado. Apesar de todos estes instrumentos mágicos da civilização estarem reestabelecidos, é simplesmente hora de sentar e contarmo-nos histórias, as histórias do amor que descobrimos; debaixo da lama, esta lama fecunda do que poderemos nos tornar.
Nunca mais voltarmos ao normal que era antes é o mínimo de honradez devida aos nossos queridos que se foram. Nunca mais voltarmos ao que era antes é o mínimo de responsabilidade frente a nós mesmos e a todas as crianças que sobreviveram, sobreviveram para o novo.
Nestes dias em que a lua volta a estar no mesmo lugar de um mês atrás, onde estamos nós? O que temos aprendido? Será possível caminharmos sem ingenuidades frente ao modelo de civilização que temos adotado: ele é brilhante, ilusório, desumano, inodoro, definitivamente inodoro. Nosso modelo de civilização não suporta o cheiro libertador de lama de enchente.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Onde está a liberdade?

Na semana passada estive na Editora Antroposófica apresentando o livro CLAREAR. Com o objetivo de ampliar os canais de distribuição dessa publicação, propus a disponibilização para venda na Livraria Antroposófica e deixei um exemplar para avaliação.

Hoje, mais de uma semana depois, fui comunicada que o livro não foi aceito para comercialização nesse local.

Quero manifestar meu desapontamento e indignação em relação a esse posicionamento, e deixar uma pergunta para pensarmos: Como fica a LIBERDADE tão apregoada e reverenciada por todos? Não há espaço para críticas construtivas? Só para elogios?

Sou apreciadora dos ditados populares por sua sabedoria e simplicidade,lembram-me muito minha querida avó. Um deles diz: "Esconder a sujeira debaixo do tapete não torna a casa limpa." Essa medida poderá até deixar a casa mais agradável, porém com o tempo a poeira e os ácaros tomarão conta do ambiente e comprometerão a saúde de seus moradores.

Que cada um faça suas reflexões a respeito.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Contribuições

Clarear tem um novo seguidor que se intitula como "Processo educativo se constroe com críticas e reflexões". Só o nome já basta para discutirmos a respeito. Gostei.

Uma profissional da educação com muita experiência,do meu círculo de relacionamentos, escreveu para mim pelo Facebook uma frase que também achei bem dentro da proposta de Clarear: "Na educação não há fronteiras que não possam ser transpostas se compartilharmos teorias e experiências".

Uma outra pessoa, também pelo Facebook, me escreveu que é importante o espaço de compartilhar e refletir, mas que as ações que de fato colocamos no mundo são mais importantes. Concordo com isso, mas acredito que em primeiro lugar se dá o despertar da consciência, no nível do pensar humano, e nesse sentido o espaço de reflexão tem seu valor, muitas vezes torna-se fundamental. A discussão é uma ação, é a ação do pensamento.

A História nos mostra os grandes movimentos geradores de transformações sociais que nasceram da reflexão, da discussão em pequenos grupos, com posterior expansão. Esse foi o caminho.

Recebi em um recente comunicado da escola de minha filha, trecho de uma publicação de autoria de Sánchez Vázquez:

"A teoria em si (...) não transforma o mundo. Pode contribuir para a sua transformação, mas para isso tem que sair de si mesma, e em primeiro lugar, tem que ser assimilada pelos que vão ocasionar com seus atos reais e efetivos, tal transformação. Entre a teoria e a atividade transformadora se insere um trabalho de educação das consciências, de organização dos meios materiais e planos concretos de ação." Esse é o caminho.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Quando tudo dá errado - por Sandra Seabra Moreira

Este post é do blog http://sonhesustentavel.zip.net, da jornalista e pedagoga Sandra Seabra Moreira. Nele ela discorre de forma inspiradora sobre o exercício da maternidade. Fala sobre o significado do Seminário de Formação de Professores Waldorf em sua vida e sua experiência como mãe em uma escola Waldorf. Um texto rico e instigante que merece toda atenção.


Quando tudo dá errado

Clarear - A Pedagogia Waldorf em Debate, livro de Ana Lúcia Machado disponível no link (lá embaixo), me fez pensar muito. Há sempre muitas maneiras de se ver as coisas. Clarear traz visões e perguntas de pais que se viram em apuros e o blog de Ana Lúcia se propõe a debater todas as outras visões que surgirem a partir da leitura do livro. É uma iniciativa importante, justamente quando os pensadores da Pedagogia Waldorf alardeam a necessidade de diálogo com todas as demais gentes de boa vontade, independentemente da pedagogia que praticam, em favor de uma infância mais digna e feliz.

Mas não foi só o livro que me fez pensar muito. As notícias que nos chegam diariamente e a experiência pessoal me fazem recordar constantemente a impotência de professores e nossa - dos pais - diante das crianças e jovens. Ao longo de uns vinte e tantos anos, ouvi inúmeras vezes de professores - muitas mesmo, e na verdade, mais do que eu gostaria de ter ouvido - a seguinte frase: "Não sabemos o que fazer com o seu filho".

Mais ou menos eu soube o que fazer com os meus filhos: alimentar, abraçar, orientar, beijar, dar bronca, mandar fazer o dever, fazer o dever junto de vez em quando, conversar, às vezes ignorar, levar no cinema e na livraria, passear no parque e na casa da avó, rezar junto. Enfim, como mãe tudo funciona intuitivamente, ou pelo menos, deveria ser assim. Raras vezes, enquanto eram crianças, me senti impotente diante dos meus filhos. Mas tive de ceder muitas vezes, porque muitas vezes eles estavam com a razão. Na adolescência a situação muda um tanto. A casa vira um campo de batalha. E hoje me lembro de que, para cada sentimento de impotência que me assaltava, eu pensava: "isso não vai ficar assim". Às vezes ficava, às vezes não. Hoje em dia, ainda com filhos adolescentes, percebo que a experiência traz calma, mas não evita conflitos. A sensação de impotência é aliviada pela certeza de que, no final, tudo dá certo. Sim, eu sou otimista e isso ajuda muito, em tudo na vida.

Fui estudar a Pedagogia Waldorf. Para além da avaliação inevitável que se teima em fazer quando as teorias chegam depois da prática consumada, e até por essa teimosia em avaliar, o aprendizado foi imenso. Queria entender muitas coisas e, especialmente, queria saber o que era uma escola cristã. O assunto é vastíssimo e vou direto ao ponto:

Foi recentemente, em meados do ano, que ouvi de novo a frase: "Não sabemos o que fazer". É honesto posicionar-se dessa forma, se não sabem, não sabem, pensei. Porém, chegado o final do ano, a frase não foi: "Não soubemos o que fazer". Ao contrário, foi minha filha que não soube fazer. E eu, claro, errei em alguma coisa, certamente. Entendi, então, que havia algo errado também com essa postura humilde de "não saber o que fazer".

Em meio às questões que se assomam nos momentos de crise, me perguntei: "por que tudo deu errado?". Essa pergunta foi a chave para acessar a minha memória. Lembrei-me com perfeição de uma das incríveis aulas que assisti no curso de Pedagogia Waldorf. A mestra Luiza Lameirão falava a respeito das muitas dificuldades que o professor pode encontrar no caminho. Em dado momento, ela se reportou àquela situação em que o professor tem a sensação de já ter feito tudo, ter usado toda sua teoria, prática e experiência, e ainda assim, as coisas não dão certo com determinada criança. A sensação de verdadeira impotência a gerar desalento e desesperança. Ela comparou esse momento a uma profunda escuridão. Uma escuridão tão densa que provoca ou permite um ponto de virada, ou seja, a entrada da luz. Ao se sentir de mãos vazias, sem mais nada a oferecer, pode-se erguê-las ao mundo espiritual e pedir ajuda! Pode bem acontecer de as idéias surgirem, pode acontecer de toda a situação se inverter. A maioria de nós sabe que isso é possível.

Comecei a entender que não se trata de ter humildade e admitir que se está perdido. Entendi que se isso é fato, se se está perdido, não é para os pais, para a criança ou para os colegas de trabalho que se deve admitir. Mas principalmente para si mesmo. Para pais admitirem erros é até mais fácil, pois o amor para com os filhos impulsiona a transformação. Para professores, entretanto, é necessário mais do que humildade; talvez seja necessário um verdadeiro interesse, um sentimento que, infelizmente, facilmente torna-se vago e se perde em meio às metas, notas, "acordos". De resto, a frase que nos chega tão sincera - "não sabemos o que fazer" -é muito mais uma maneira de introduzir as más notícias do que propriamente um reconhecimento da incapacidade para lidar com a questão. Também não basta admitir que se precisa de ajuda de outros especialistas, porque talvez eles também não resolvam. Pior ainda é mostrar-se um profissional incapaz diante do aluno, o que raramente acontece, pois normalmente, na sala de aula, se evidencia muito mais a incapacidade do aluno do que a incapacidade do professor. Crianças e jovens que respeitam os professores dificilmente conseguem reverter essa situação.

É duro admitir o erro, esbarrar na escuridão. Por outro lado, ao se deparar com as próprias limitações e desassossego, ao se deparar com a própria incompetência, pode-se aperfeiçoar. Que incrível deve ser tornar-se um profissional bom o suficiente para se acercar daquela criança pela qual nada mais pode ser feito. Claro que não basta admitir. Conheço professores que estudam muito, recorrerem aos colegas mais experientes da própria escola ou de outras escolas que professam a mesma pedagogia, acreditam naquilo que os pais dizem do comportamento da criança ou jovem em casa, para conhecê-lo melhor. Acreditar. Talvez essa seja uma boa palavra. Acreditar nas pessoas ao redor, no belíssimo instrumental oferecido por Rudolf Steiner. E acreditar no mundo espiritual.

Eu poderia ter contribuído muito mais para a vida escolar dos meus filhos se os professores me ouvissem. E ouvir aqui é no sentido de acreditar e fazer uso das informações trazidas pelos pais. A maioria tem muito a contruibuir, para além das tarefas comunitárias e do trabalho de pagar escola, psicólogo, fono, massagista e terapeutas.

Imagino que essa é a grande diferença entre uma escola cristã e uma escola "normal". Entretanto, é muito difícil olhar para as próprias limitações. Por isso a pertinência de Clarear. E a disposição de muitos pais, ainda que já afastados das comunidades Waldorf, em debater. Jornada longa, mas imperdível.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Estamos a caminho

Este é um espaço de acolhimento, de compartilhar. Acolher o outro em sua dor, preocupação, decepção. Este é um espaço de discussão, troca de experiências boas ou ruins. Quem sabe juntos possamos descobrir um novo caminho? Agradeço a coragem e honestidade da ex-mãe Waldorf Cátia Benevenuto em seu comentário.

Em Clarear enfatizo a importância da obra do pedagogo europeu Heinz Zimmermann, "Forças que impulsionam a educação" por seu caráter contemporâneo e pela coragem do autor em desnudar as dificuldades e desafios do dia a dia do profissional da educação.

O comentário de Rosele Lima é muito pertinente: "Essa escola tem potencial". E o que se entende por potencial? "algo que precisa ser desenvolvido, não está pronto, pode ser mudado, melhorado".

Isso significa que estamos a caminho.
No livro de Zimmmermann isso fica muito claro. E fica claro também que temos que deixar para trás diretrizes convencionais e tradições desgastadas e ultrapassadas. E mais ainda, temos que nos abrir para o novo, fora do âmbito da comunidade Waldorf em aspectos comprovados de processos bem sucedidos em relação organizacional, na comunicação, no pedagógico.

Acho importantíssimo quando ele diz: "Precisamos ter a modéstia de reconhecer que ainda estamos no início do desenvolvimento da liberdade e, por isso, da formação de novas maneiras de trabalho conjunto. Isto vale para toda a Pedagogia Waldorf. As mais de 600 escolas existentes no mundo, o reconhecimento público, os 75 anos de fundação e de experiência não nos devem iludir quanto ao fato de estarmos bem no início e de termos um século de desenvolvimento futuro diante de nós.
O que podemos constatar muito nitidamente nos problemas do trabalho conjunto é o fato das diretrizes convencionais, ou forças quaisquer advindas da tradição estarem definidamente desgastadas. Só será produtivo e frutífero o que for empreendido pelos interessados a partir de iniciativa e conhecimento atuais. Também neste âmbito não deveríamos deixar de considerar conhecimentos não antroposóficos. Encontramos trabalhos excelentes de orientação prática sobre processos de comunicação e de organização social."

Em relação aos números acima citados devemos considerar que o livro foi editado em 1997.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Escola Waldorf pública

Recentemente por ocasião da tragédia ocorrida na região serrana do Rio de Janeiro, tomei conhecimento por meio de pedido de doações feitos pelo Dr. Darlan Schottz e pela Profª Talita Melone, que há duas escolas Waldorf que são públicas no município de Nova Friburgo: a Escola Comunitária Municipal do Vale de Luz, na área rural da cidade, e a Escola Municipal Cecília Meireles, na área urbana.

Tenho uma vaga lembrança, da época em que cursei o Seminário de Formação de Professores Waldorf, de um professor ter feito um comentário a respeito dessa escola.
Como conseguiram viabilizar essa escola pública? Por que essa iniciativa não se dissemina para outros estados brasileiros?

Afinal o impulso que originou a Escola Waldorf repousa sobre a classe operária. A Escola Waldorf nasceu com uma vocação social.

Temos em São Paulo o maravilhoso trabalho na Favela Monte Azul da educadora Ute Craemer, porém trata-se de um caso isolado aqui e acredito que não se classifique como escola pública e sim como uma ONG.

Por que após tanto tempo não se consegue expandir de maneira expressiva a Pedagogia Waldorf para além da classe burguesa?

Uma das preocupações apontadas em “Clarear” por pais de crianças de escolas Waldorf é em relação ao aspecto social. Eles questionam a escassez de crianças de camadas menos favorecidas em sala de aula e alertam para a necessidade de se trabalhar o olhar social dos alunos da elite que estão imersos num mundo de abastança, sem conhecer o que é privação sob nenhum aspecto. É preciso colocar na prática um currículo social verdadeiro.

Na palestra do prof° Christopher Clouder, já postada aqui, ele afirma que o propósito da Pedagogia Waldorf sempre foi o da atuação em escola pública e não particular.

Pois então, há um campo aberto e amplo de possibilidades de iniciativas e atuação.

O Dr. Darlan Schottz é diretor da Associação Crianças do Vale de Luz, mantenedora dessas escolas e é também médico escolar. A Profª Talita Melone trabalha na Escola Municipal Cecília Meireles.

Os interessados podem enviar doações para:
Banco Itaú
Agência 7672
Conta corrente 00409-5

Quem desejar um relato sobre a utilização da doação pode solicitar pelo email: acvluz@valedeluz.org.br