Abraço fraterno
Ana Lúcia Machado
Olá a todos!
Meu filho integra o Jardim de uma escola Waldorf há 3 anos e estou encantada com esta pedagogia.
Ano que vem ele estará no primeiro ano do ensino fundamental e estou segura em mantê-lo em uma escola Waldorf.
Participo de um grupo de estudos de mães Waldorf e quando li “A Pedagogia Waldorf” de Rudolf Lanz pensei: “Oh Céus! É a escola que eu gostaria de ter cursado!”
Apesar do meu grande interesse e admiração, nesses poucos anos já percebi que a prática da PW pode esbarrar em falhas humanas que NÃO SÃO MAIORES DO QUE EM ESCOLAS NÃO-WALDORF, mas que são mais frustrantes porque ESPERAMOS MAIS de uma escola Waldorf .
A imagem que tenho em mente é: ao escolherem uma escola normal os pais MATRICULAM seus filhos em uma escola, e, ao escolherem uma escola Waldorf os pais ENTREGAM seus filhos à escola.
Não por lavarem as mãos e deixarem a educação da criança apenas a cargo da escola, mas por decidirem “nadar contra a maré” e investirem a educação formal de seus filhos a uma instituição que tem características diversas da maioria, que segue um currículo próprio sob muitos aspectos e que promete respeito à individualidade da criança e o ensino como forma de terapia.
Matrícula X Entrega - é uma grande diferença, que gera diferentes expectativas.
Então, não acredito em “forças adversas” como mencionou o professor Setzer, mas acredito em grandes frustrações decorrentes de grandes expectativas.
Por outro lado entendo o professor Setzer quando constata o cruel e difícil caminho da Antroposofia e da PW ao escrever que “nas iniciativas antroposóficas, não se pode permitir nada mal feito...”
Isso me parece um fato.
Mas somos todos humanos, INCLUSIVE OS PRATICANTES DA ANTROPOSOFIA E DA PEDAGOGIA WALDORF, então como negar a possibilidade de erros??????
Bem... minha humilde sugestão é: se a PW é um remédio aplicado dia-a-dia pelo professor (que é a figura-chave desta Pedagogia) e o professor é humano, não há como simplesmente dotá-lo de tanta autonomia, como se passível de erros não fosse – como se humano não fosse.
Temos que aprimorar (ou desenvolver) mecanismos de controle real do professor , priorizando o aluno e a proposta pedagógica e não o corporativismo.
Pais devem ter um canal muitas vezes sigiloso para que alguém de fora do conflito investigue um pouco do problema e saiba reunir as partes conduzindo-as a uma solução e não fazendo “acareações” que podem resultar em respingos no tratamento dado ao aluno em sala de aula.
Um dos debatedores (ou terá sido a autora de Clarear?) mencionou a necessidade de um aprimoramento geral da humanidade antes de dotar o professor de tanta autonomia. Eu concordo. Não chegamos lá ainda....
Quando meu filho entrou na Pedagogia Waldorf eu me apaixonei pela escola e pensei em ser Jardineira. Na verdade me imaginei sendo uma maravilhosa professora Waldorf. Hoje, depois de alguma auto-educação/reflexão, percebo tantas falhas em mim que não ousaria assumir uma classe. Tive uma educação muito firme e não entendo a “soltura” com que as crianças são criadas hoje em dia e, se pretendo ser uma professora Waldorf, preciso entender e trabalhar com a criança que existe hoje em sala de aula e não com o que eu imagino que deva ser uma criança em sala de aula.
Tendo em vista as falhas a que nós humanos estamos sujeitos, me parece que ter um mesmo professor de classe por oito anos deva ser um projeto mais ligado ao futuro (com seres humanos mais auto-conscientes e auto-críticos) do que ao presente (salvo honrosas exceções)...
Já vi escolas W dando ao professor a possibilidade de seguir com a turma só até o 4º ano. Ou seja, o professor tem a oportunidade de auto-avaliar sua determinação em continuar.
É saudável para o professor. É saudável para a turma.
Quanto às críticas e elogios direcionados ao livro Clarear, gostaria de deixar também minhas humildes impressões.
O livro Clarear me ajudou. E me ajudou em diversos sentidos:
1º) vi que alguns dos meus receios sobre a prática da PW podem de fato ocorrer, e que não sou uma lunática procurando “chifres em cabeça de cavalo”. A PW é praticada por pessoas e, portanto, está sujeita a falhas. Então vamos tratar de diminuir as fendas através das quais tais falhas podem ocorrer??????
2º) me deu informações preciosas para que eu fique atenta e não deixe meu filho ter sua educação Waldorf prejudicada pelo erro de uma professora e/ou de um tutor. Eu quero muito que meus filhos desfrutem da PW!!!!!!!!!!! E agora tenho mais instrumentos e força para agir em caráter preventivo.
3º) em meus receios, eu achava que uma professora muito experiente na PW seria a melhor opção para que erros do professor fossem evitados e com isso eu enfrentava um grande problema: as duas escolas Waldorf onde posso matricular meu filho terão em 2012 professoras jovens e pouco experientes assumindo o 1º ano do fundamental. Ao ler Clarear percebi que talvez a motivação, a garra e o idealismo dos jovens seja melhor do que uma grande experiência desgastada pelo cansaço, falta de motivação e intolerância. Ou seja: estou convencida de que as jovens professoras - que são minha única opção, não devem me desanimar em manter meu filho numa EW, pelo contrário!!!!!!
Por outro lado, apesar de Clarear ter sido um livro positivo na minha relação com a PW (pois me municiou de informações para que eu saiba separar o bom do mau na prática da PW e assim sentir-me segura em continuar abraçando-a), concordo que:
1º) um trabalho que pretende “clarear” deveria sim fazer uma introdução sobre o que é a PW, pois sem meus filtros pessoais, advindos de meus estudos, eu teria ficado muito mal impressionada com a PW ao ler o livro - tanto assim que quando meu marido quis folhear o livro eu pedi que não o fizesse pois ele teria uma má impressão da PW num momento fundamental: a matrícula de nosso filho numa EW para cursar o fundamental;
2º) um trabalho que pretende “clarear” deveria sim mencionar alguns casos de sucesso da PW a fim de tirar o caráter de desabafo pessoal do trabalho e dar-lhe um caráter mais científico....
3º) um trabalho que pretende “clarear” deveria utilizar um título mais preciso, algo que deixasse clara a intenção de apresentar “casos equivocados de aplicação da Pedagogia Waldorf – um desserviço à Obra de Rudolf Steiner” e não um título que questione a PW em si, afinal, pelo que entendi do livro, a autora e outras depoentes são admiradoras da PW e/ou da Antroposofia.
Espero que a discussão sobre a melhora da prática Waldorf continue neste espaço. Isso me interessa muito.
Não conheço nenhum de vocês, mas pelo que li percebi que muito do que foi escrito no livro e no blog incomodou uns e outros. Ou melhor, ofendeu aos princípios e estudos de uns e de outros.
Os sentimentos advindos de tais ofensas são legítimos, mas, pelo bem geral, peço que façamos um exercício de perdoar as ofensas e de focarmos em idéias para a que a PW seja melhor praticada por todos.
Com esperanças de uma discussão frutífera,
E humildemente (pois não tenho títulos nem grandes experiências em PW nem em Antroposofia, sou apenas uma mãe em busca do melhor para seus filhos),
Egle M. T. Grecchi