sexta-feira, 11 de março de 2011

Escola Waldorf pública - parte II

Este é um pequeno relato sobre a história das escolas Waldorf públicas de Nova Friburgo, seguido de uma entrevista com a Profª Talita Melone da Escola Municipal Cecília Meireles:

A primeira escola surgiu como um projeto social sem vínculo com a pedagogia Waldorf em 1991, por meio da atuação do casal de educadores e artistas Tião Guerra e Mariane Canella junto às crianças da zona rural da cidade.

A partir de 1993 a pedagogia Waldorf é adotada pela escola com o apoio da Profª Lúcia Casoy e Mara Rúbia Ribeiro (1996). Somente em 1996 a escola conseguiu o convênio com a prefeitura passando a denominar-se Escola Comunitária Municipal Vale de Luz.
Em 2000 expandiu sua atuação para um bairro da cidade, e em 2004 estabeleceu-se como uma escola pública emancipada: a Escola Municipal Cecília Meireles.

Pessoas como Hermman Kriebel, Gertrudes Benckendorf, Gisela Dungs e Rudolf Lanz, muito trabalharam ao longo de anos, no estabelecimento das bases e na condução da escola para o caminho da pedagogia Waldorf.

Hoje são mais de 300 crianças atendidas em período integral, que vão do Jardim até o 5° ano do Ensino Fundamental. As duas escolas foram premiadas. Em 2008 com o Prêmio Fundo Itaú de Excelência Social (FIES) e em 2009 pelo Instituto HSBC Solidariedade. Por meio do Centro de Formação e Desenvolvimento, também ligado às duas escolas através da Associação Mantenedora Crianças do Vale de Luz , são mantidos um Seminário de Pedagogia Waldorf e cursos para professores da Rede Pública Municipal , o Café Pedagógico, que também já tem sua extensão na cidade mineira de Ubá.

Talita Melone, professora de uma turma de 1.° ano da Escola Municipal Cecília Meireles, fala um pouco dessa trajetória:

Como é a relação da Escola com a Prefeitura?
A parceria com a Prefeitura Municipal de Nova Friburgo (PMNF) é fundamental para a sustentabilidade das duas Escolas Waldorf Públicas . Hoje, através da Secretaria Municipal de Educação, a PMNF é responsável por 60% do financiamento das atividades das escolas, cobrindo parte do quadro de profissionais, material pedagógico e merenda escolar.

Foi preciso de alguma maneira se ajustar ao modelo da prefeitura? A proposta curricular Waldorf foi e é apresentada sempre que necessário às novas equipes da Secretaria Municipal de Educação. Um longo trabalho de comparação e cruzamento entre as propostas curriculares - pública e waldorf - é feito e apresentado.

Em relação ao currículo foi preciso abrir mão de algo ou absorver parte do currículo municipal? Sim. Atualmente convivemos com duas exigências por parte do poder público que nos faz ter que adequar-nos ao currículo da municipal: a entrada dos alunos com 6 anos incompletos no 1º ano escolar, e as avaliações através da Prova Brasil. Sendo assim, temos que reestruturar o trabalho com as classes, sempre visando a preservação ao máximo daquilo que consideramos vital para o desenvolvimento sadio dos alunos.

Em relação a gestão da escola, a Prefeitura exerce algum tipo de controle?A gestão das escolas segue a proposta de que professores devem atuar nas mesmas, como em qualquer escola Waldorf. Temos os responsáveis legais pelas escolas que fazem a ponte entre as mesmas e a Secretaria Municipal de Educação; seguimos as exigências e recebemos o apoio dados à todas as demais escolas da rede municipal de ensino.Temos em nossos convênios, a autonomia pedagógica, que nos permite manter a nossa identidade dentro dos preceitos da organização municipal do momento.

Quais as dificuldades enfrentadas por uma escola pública Waldorf? As mesmas das escolas waldorf do mundo e públicas do "terceiro mundo", só que somadas às exigências feitas pelos órgãos governamentais, captação de recursos, baixa remuneração dos profissionais, jornada tripla de muitos professores. Se somam os desafios diários com pais, que anseiam ter na escola Waldorf , muitas vezes a “cura” para as questões de seus filhos e não se vêem como principais sujeitos do processo.

Quais os maiores desafios? A remuneração dos profissionais e ampliação da oferta pedagógica (até o 8º ano), que estão intimamente vinculadas. Nas nossas escolas temos profissionais muito dedicados, e que como sabemos no meio “waldorf” a dedicação vai muito além do tempo presente fisicamente com os alunos ou na escola. E infelizmente o retorno financeiro não abrange tamanho empenho. Na Escola Cecília Meireles temos como desafio e meta manter nossos alunos até o fim do Ensino Fundamental.

Como os pais da rede pública recebem a PW? Como somos escolas públicas Waldorf e de período integral, temos no nosso público a procura dividida para esses dois quesitos. Mas o que com certeza faz com que os pais mantenham seus filhos nas escolas é a qualidade pedagógica oferecida. Há inúmeros casos de pais que se identificam tanto com a Pedagogia Waldorf, que acabam se aproximando deste universo e apoiando as escolas através de grupos de trabalho nas escolas, fazendo a formação e continuando a apoiar mesmo depois que os seus filhos saem das escolas. Outro ponto positivo na relação com os pais, é a interação social entre as famílias e alunos de diversas camadas sociais e culturais. Nas escolas recebemos alunos para a escola pública e gratuita. Porém é crescente o número de famílias que entendem e atendem as necessidades específicas da Pedagogia Waldorf - como material pedagógico - e contribuem com estes materiais financeiramente, para os seus e para os filhos dos outros.

Como os alunos assimilam a mudança na abordagem pedagógica após a saída ao término do 5° ano? É feito algum trabalho visando facilitar essa mudança? O Trabalho é feito sempre. Na Escola Cecília Meireles já constatamos que os alunos que saem da escola no final do 1º segmento do Ensino Fundamental (5º ano), com um bom desenvolvimento cognitivo, emocional e social, tem as mesmas ou até maiores capacidades dos demais alunos das outras escolas. Aqueles que possuem dificuldades de aprendizagem, quando não são superadas, levam em sua bagagem todas as outras habilidades conquistadas. Capacidades são desenvolvidas, o que não que dizer que são os mesmos e exatos conteúdos e das mesma forma. Inserimos à maneira e criatividade de cada professor as possíveis e necessárias adequações, como as avaliações e notas. A adaptação maior é em relação forma, mas o anseio por aprender permanece.

Abraço,
Ana Lúcia Machado

Um comentário:

  1. O texto sana algumas das perguntas mais básicas. Parabéns!
    Gostaria de saber se poderiam me orientar em como ocorre a abertura de vagas nessas escolas publicas, sendo as únicas do Estado do RJ, imagino ser mt concorridas. Tenho 2 filhos e o mais velho já estuda na metodologia. Então qualquer informação desde já, fico agradecida! Namastê.

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